Episódio 4: Chaguinhas, o santo negro da liberdade
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Chaguinhas, o santo negro da liberdade
Sou chaga no esquecimento, ferida que teima a sangrar, que não seca, não cicatriza. Sou a chama que não se apagou, nem se apagará. Executado há mais de 200 anos, no Largo da Forca, sigo sendo morto a cada dia, na Praça da Liberdade e em tantas outras praças das cidades desvairadas do Brasil independente.
Mas sigo vivo na chama da Santa Cruz e das encruzilhadas, onde a reza é sincera e a fé não tem prisão.
Sou a lembrança que teima no meio do povo, nas filas, nas vilas, favelas; no início e no fim do dia; no sufoco do salário, do metrô, do trem, do ônibus, das longas caminhadas; no barulhinho perturbador das caixas registradoras dos comerciantes, e entre os ambulantes da Liberdade.
Sou a candeia que ajuda a esperança a enxergar.
Sou um Orfeu de carapinha, e planejo cercar Piratininga, convocado pelas mulheres de Abiayala. Sigo cantando a canção e sambando o samba e vivendo a fantasia. Persigo a escola. Marcho pela consciência de ser-estar-negro-no-mundo. Sigo marchando no meio da noite, véspera que persiste, do 13 de maio. E quando o dia finalmente amanhecer, vou no Bixiga pra ver.
A chama não se apagou. Nem se apagará!
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